Aprovada
na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado nesta quarta-feira,
o projeto de lei que prevê a possibilidade de renúncia da
aposentadoria para recálculo do benefício é visto como uma
conquista por advogados especializados em previdência e por
sindicalistas. "Essa lei trará justiça social para os
trabalhadores aposentados, porque o Estado, quando retirou o pecúlio
(devolução da contribuição feita pelo aposentado), diz que quem
voltou a trabalhar é obrigado a contribuir sem ter direito a
benefícios. Isso é inconcebível, porque é uma contribuição sem
contrapartida", avalia o advogado André Luiz Marques,
presidente do Instituto dos Advogados Previdenciários (IAP)."A
partir do momento em que o cidadão aposentou-se e continuou
trabalhando e, por força de lei, é obrigado a contribuir com a
Previdência, é inaceitável e até inconstitucional que essas
contribuições sirvam absolutamente para nada", acrescenta
Marques.
A opinião
do advogado repercute no mesmo sentido entre sindicalistas."A
gente via essa impossibilidade de recalcular o valor da aposentadoria
como um grande castigo, porque se o trabalhador continua na ativa, é
justo", justifica o presidente da CUT/RS, Claudir Antonio
Nespolo."Nós vemos com grande alegria essa posição do Senado,
que tem tido encaminhamentos e decisões que são de interesse do
povo e dos trabalhadores", afirma o presidente da Força
Sindical do Rio Grande do Sul, Cláudio Janta. Janta argumenta que a
aposentadoria já sofre com reduções pelo fator previdenciário e
que o recálculo do benefício para quem continua contribuindo com o
sistema "é um direito".
A
possibilidade de renúncia da aposentadoria já existe para os
servidores públicos. O mecanismo, chamado de desaposentadoria ou
desaposentação, permite a revisão no valor do benefício,
reconsiderando o tempo total de contribuição no cálculo. "Esse
argumento é um dos que os advogados utilizam na sua fundamentação
ao requerer judicialmente essa desaposentadoria", explica
Marques.
Para o
advogado especializado em Direito Previdenciário Décio
Scaravaglioni "hoje em dia se paga a contribuição e ela não
tem destinação alguma". Scaravaglioni ressalta que a
contribuição dos aposentados representa valores significativos para
Previdência, já que, segundo ele, a maior parte dos aposentados que
seguem contribuindo com o sistema é composta por profissionais que
dão continuidade à carreira e que têm um vencimento maior.
O senador
Paulo Paim (PT-RS), autor do projeto de lei, esclarece que a
possibilidade de revisão do benefício não é um favor. "O
aposentado que contribui não está pedindo nada de graça. Ele está
contribuindo", defende. O projeto seguirá para aprovação na
Câmara dos Deputados, se não houver recurso para votação no
plenário do Senado. E ainda dependerá de sanção da presidente
Dilma Rousseff.
Tramitação
de processos pode ser favorecida com aprovação no Senado
Há 24
mil ações judiciais requerendo a desaposentadoria, de acordo com
levantamento da Procuradoria do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), que resultariam em 70 mil ações, segundo o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), por conta dos recursos apresentados.
Segundo o levantamento mais recente do INSS, de fevereiro de 2012, há
703 mil aposentados contribuindo com o sistema. O advogado
especialista em previdência Décio Scaravaglioni salienta que o
número de aposentados com direito a requerer revisão pode passar de
milhares de pessoas. "Qualquer aposentado que contribuiu por
algum tempo, mesmo que não esteja recolhendo agora, tem direito a
requerer um novo benefício com base na contribuição adicional.
Então, o número de pedidos vai superar o de contribuintes
aposentados ativos."
O Supremo
Tribunal Federal (STF) avalia a procedência de uma dessas ações,
com intuito de criar jurisprudência. A Ação é coletiva e de
autoria da auxiliar de farmácia aposentada Lúcia Costella (primeira
Ação neste sentido), que requer, juntamente com outras quatro
aposentadas do Grupo Hospitalar Conceição, o direito à renuncia ao
benefício, garantido na década de 1990, para recálculo do valor,
considerando contribuições feitas posteriormente. "Eu me
aposentei e continuei trabalhando por seis ou sete anos",
explica Lúcia.
Para o
advogado de Lúcia, Cristiano Ferreira, a legislação favorece a
tramitação do processo no STF, que já obteve parecer favorável do
ministro-relator Março Aurélio Mello. "Não é uma garantia de
que os processos vão ser favoráveis, mas a legislação (aprovação
na comissão do Senado) é um indício positivo", defende.
Defensores
do projeto rechaçam argumento contrário do governo Segundo artigo
publicado em outubro de 2011 pelo diretor do Departamento do Regime
Geral da Previdência Rogério Nagamine Costanzi, a Longo prazo a
desaponsentadoria poderia gerar um Déficit previdenciário de R$ 69
bilhões. Os dados que subsidiam o estudo são de 2010. O senador
Paulo Paim (PT/RS) argumenta que o projeto de lei foi estruturado em
estudos e que esse argumento não faz sentido. "Como é que você
vai dar gasto se você está contribuindo?", questiona. "Quanto
mais o trabalhador ficar em atividade, mais ele vai contribuir",
completa.
"Falam
que vai trazer um custo, um rombo, para o INSS, mas isso não é
representativo", atesta o advogado André Luiz Marques. "Não
tem que se falar em rombo da Previdência por conta disso. O sistema
de seguridade social não é feito para ter superávit e, muito
menos, déficit. Você não pode aceitar uma contribuição sem ter a
contrapartida do benefício" , explica.
Entre as
centrais sindicais prevalece a mesma lógica. "Essa é uma
conversa pouco séria por parte dos agentes do governo. A
Previdência, se você somar a contribuição dos empresários e dos
trabalhadores da iniciativa privada, é superavitária, sustentável
a longo prazo" , pontua Claudir Antonio Nespoto, presidente da
CUT/RS, dizendo que o problema é de gestão. "Os constituintes
brasileiros destinaram à população benefícios justos, como o
auxílio para crianças deficientes e aposentadoria ao trabalhador
rural, só que tudo sai da contribuição dos assalariados da
iniciativa privada e da contribuição empresarial. O governo, no
decorrer dos anos, não cumpriu a sua parte que era repassar à
Previdência os custos desses setores", defende.