Quando
crimes que causam grande comoção nacional como o assassinato de
Daniela Perez, do casal Richthofen ou a morte da menina Isabella
Nardoni são levados a júri popular, o país volta sua atenção aos
jurados – as pessoas escolhidas em meio à sociedade para dar um
veredicto sobre o caso. Saiba como é feita a seleção dessas
pessoas, como funciona a rotina delas quando o julgamento se inicia e
o que elas podem ou não fazer durante esse tempo. Sem receber
pagamento por isso, milhares de jurados trabalham anonimamente nos
cerca de 1.300 julgamentos realizados no Brasil anualmente. Aceitar o
papel de jurado é considerado um dever cívico, assim como votar em
eleição. Quando um cidadão é sorteado por algum tribunal, só
consegue safar-se com argumentos muito convincentes. Entenda:
1. Como
são escolhidas as pessoas que formam o júri popular?
2. O que
pode impedir alguém de se tornar um jurado?
3. O que
impede um jurado de integrar um júri específico?
4. Os
escolhidos podem se abster de comparecer ao tribunal?
5. Em
quais casos o Tribunal do Júri pode ser convocado?
6. De que
forma a ostensiva cobertura da mídia pode interferir na decisão
dos
jurados?
7. Há
casos em que a lei permite a anulação da sentença do júri
popular?
8. O que
ocorre caso a sentença seja anulada?
9. Como
devem proceder os jurados durante o julgamento?
10. O que
é atribuição do jurado?
11. Há
algum benefício previsto para quem faz parte do júri?
12. O que
fica à cargo do juiz em uma sessão de júri popular?
1. Como
são escolhidas as pessoas que formam o júri popular?
O jurado
pode se inscrever ou ser indicado para a função. De toda forma, seu
nome passa a constar numa lista elaborada pelo juiz-presidente da
Comarca. Essa escolha pode variar de acordo com o tamanho e o número
de habitantes das cidades. Em regiões maiores, como São Paulo, o
magistrado envia a bancos, empresas e repartições públicas ofícios
em que solicita a indicação de funcionários de idoneidade
comprovada. Já em cidades menores, essa lista é elaborada, muitas
vezes, pelo próprio juiz com o auxílio de terceiros. Quem tiver
interesse em ser jurado voluntário também pode se inscrever no
Tribunal do Júri de sua cidade. Para tanto, deve apresentar cópia
da carteira de identidade e CPF, além de Certidão Negativa Criminal
e Atestado de Bons Antecedentes. Desta lista, a cada processo, são
sorteados 21 nomes que devem comparecer ao julgamento. Essas pessoas
são intimadas a estar no Fórum no dia da sessão. Desses 21, apenas
sete são sorteados para compor o o Conselho de Sentença, o grupo
que ouve a acusação e a defesa para defininir a culpa ou não do
réu. Esse sorteio é feito pouco antes do início do julgamento.
2. O que
pode impedir alguém de se tornar um jurado?
Os nomes
de todos os candidatos a jurado passam por uma triagem do
juiz-presidente para que se comprove sua idoneidade moral. Não se
escolhem jurados pela posição social ou grau de instrução. São
verificados, principalmente, os antecedentes criminais. A lista com
todos os nomes que integram o Corpo de Júri de uma cidade é
publicada em novembro, mas pode sofrer alterações caso haja alguma
reclamação sobre determinada escolha. A lei não garante ao jurado
a prerrogativa de declinar da função, mas as pessoas podem tentar
fazê-lo explicando ao juiz o que as impede de exercer a função. Um
caso de parente que esteja sendo julgado por homicídio, por exemplo,
pode ser considerado um impedimento, bem como ser gestante, lactante
ou possuir alguma deficiência física que o atrapalhe durante o
julgamento, como a surdez.
3. O que
impede um jurado de integrar um júri específico?
As
pessoas podem ser impedidas de integrar um júri caso seja comprovado
algum parentesco entre elas e o juiz, o promotor, o advogado, o réu
ou a vítima. Além disso, não podem fazer parte do mesmo júri
marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora,
irmãos, cunhados, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. A
cada jurado sorteado, o juiz pergunta ao promotor e ao advogado de
defesa se o aceitam ou recusam. Há uma noção corrente nos meios
jurídicos de que engenheiros e cidadãos de ascendência japonesa
são muitos rígidos em seus julgamentos — a defesa costuma
recusá-los. Já os adeptos de religiões espíritas seriam mais
propensos a absolver os réus — os promotores não costumam
aceitá-los. Se o réu é acusado de estupro seguido de morte,
dificilmente o advogado de defesa admite no júri uma mulher,
teoricamente inclinada a chocar-se mais com o crime do que um homem.
Promotor e advogado de defesa têm direito a três recusas cada um e
não precisam explicar por quê.
4. Os
escolhidos podem se abster de comparecer ao tribunal?
Uma vez
que foi intimada para a função, a pessoa que não comparecer ao
Tribunal poderá responder por crime de desobediência. A recusa do
serviço do júri pode implicar também perda de direitos políticos.
Caso não possa exercer a função, é prudente que o escolhido para
jurado explique sua situação ao juiz, que decidirá pela sua
dispensa ou não.
5. Em
quais casos o Tribunal do Júri pode ser convocado?
Os
membros da sociedade podem julgar casos de assassinato, tentativa de
assassinato, aborto e incentivo ao suicídio. Todos os crimes desse
tipo são levados a júri popular, exceto nos casos de aborto em que
a pena for igual a superior a um ano, pois então o processo é
extinto e não há necessidade de julgamento.
6. De que
forma a ostensiva cobertura da mídia pode interferir na decisão dos
jurados?
Em casos
de comoção nacional, como o da menina Isabella Nardoni, tudo o que
se fala a respeito do crime pode, de certa maneira, influenciar o
júri. Como explica o juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º
Tribunal do Júri de São Paulo, o perigo é que essas pessoas podem
iniciar o julgamento com conclusões precipitadas sobre os fatos.
Essa influência, contudo, é limitada pelo fato de que esses
julgamentos constumam ocorrer alguns anos após o crime, quando a
cobertura do caso já "esfriou". Dessa forma, os jurados
tendem a se concentrar apenas no que lhes é passado durante o
julgamento.
7. Há
casos em que a lei permite a anulação da sentença do júri
popular?
Sim. A
lei prevê algumas hipóteses de recurso da decisão do Tribunal do
Júri, mas apenas em situações previstas no artigo 593 do Código
de Processo Penal, que são: ocorrência de nulidade (defeito
judicial); sentença contrária à lei ou à decisão dos jurados,
erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou se a decisão
dos jurados for manifestamente contrária às provas. Com relação
ao mérito, porém, a decisão dos jurados não pode ser modificada.
A soberania de veredicto do júri é garantida pela Constituição.
8. O que
ocorre caso a sentença seja anulada?
Reconhecido
um equívoco ou uma arbitrariedade no julgamento, o Tribunal de
Justiça pode anular a decisão, mas outro júri terá de ser
convocado para julgar novamente o caso. O Tribunal de Justiça não
pode simplesmente absolver quem foi condenado ou condenar quem foi
absolvido pelo júri.
9. Como
devem proceder os jurados durante o julgamento?
Durante a
sessão, os sete jurados ficam proibidos de conversar sobre o caso em
questão ou sobre qualquer outro processo. Eles podem, no entanto,
falar entre si sobre outros assuntos. No mais, podem conversar apenas
com o juiz, escrivão ou oficial de justiça, caso tenham alguma
solicitação a fazer. Eles não podem ter contato com o mundo
exterior, não podem telefonar nem receber telefonemas, ler jornal,
ouvir rádio ou assistir à TV, nem mesmo nos intervalos da sessão.
Oficiais de Justiça se encarregam de vigiar os jurados o tempo todo,
acompanhando-os até mesmo ao banheiro. Se a sessão se estende por
dois ou mais dias, os jurados têm de dormir nas acomodações dos
tribunais ou são levados para hotéis nas proximidades. Continuam
sem poder comunicar-se nem com a família o tribunal se encarrega
de avisar familiares. Os oficiais de justiça permanecem nos quartos
até os jurados dormirem para garantir que não irão conversar sobre
o que julgam. Caso se descubra que a incomunicabilidade dos jurados
foi quebrada, o julgamento será imediatamente anulado e um novo
processo instaurado.
10. O que
é atribuição do jurado?
Durante a
sessão, os sete jurados são juízes de fato. Podem, portanto, mais
do que simplesmente ouvir as respostas de perguntas formuladas pelo
juiz, pela defesa ou pelo Ministério Público, requerer diligências,
inquirir as testemunhas e se utilizar de quaisquer recursos que os
conduzam a um juízo preciso a respeito da decisão a ser tomada.
Qualquer solicitação desse tipo deve ser previamente comunicada ao
juiz. É ao júri que se dirigem a acusação e a defesa. Além
disso, a decisão dos jurados não precisa ser unânime e o voto é
secreto. O Tribunal do Júri decide apenas se o réu deve ou não ir
para a cadeia, quem estipula a pena é o juiz da sessão. O veredicto
é dado através das respostas dadas a um questionário sobre o
processo, elaborado pelo magistrado. Nele, não se pergunta
diretamente se o réu é culpado ou não, mas sim se, por exemplo, a
vítima morreu de fato pelo motivo que apontam os laudos da perícia.
11. Há
algum benefício previsto para quem faz parte do júri?
Pessoas
que integraram um júri popular passam a ter direito a prisão
especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo, bem
como preferência, em igualdade de condições, nas concorrências
públicas, como empate em concurso público. Os funcionários
públicos têm garantido o direito de permanecer no emprego mesmo
tendo de se ausentar para julgar o caso. O tempo que o julgamento
levar é, para eles, uma licença remunerada. Já para os demais
trabalhadores, somente é garantido que não seja descontado da folha
de pagamento nenhum dia que se passou no tribunal.
12. O que
fica à cargo do juiz em uma sessão de júri popular?
Além de
sortear os jurados, estabelecer a pena e elaborar o questionário
sobre o processo, cabe ao juiz declarar a sentença e zelar pela
ordem no tribunal. Entre suas ações estão: regular a polícia das
sessões e mandar prender os desobedientes, regular os debates,
nomear defensor ao réu - quando o considerar indefeso -, mandar
retirar da sala o réu que, com injúrias ou ameaças, dificultar o
livre curso do julgamento, interromper a sessão por tempo razoável,
para repouso ou refeição dos jurados e resolver as questões de
direito que se apresentarem no decurso do julgamento.
algum jurado pode se abster de votar algum dos quesitos?
ResponderExcluirOlá, o jurado não pode se abster de votar a um quesito, deve em qualquer hipótese votar SIM ou NÃO ao quesito formulado. Porém, antes de iniciar a votação os jurados são questionados se existe algum ponto que não ficou devidamente esclarecido, oportunidade em que poderá solucionar qualquer dúvida. Espero ter atendido ao seu questionamento. Atenciosamente, Dr. Felipe Osmar Krüger.
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